"Quando voltei para ensino médio, tive medo. Mas a Julia serviu como um escudo e me ajudou", diz aluno gay
Por: LAURO NETO
RIO — Na porta do Colégio Estadual Max Fleiuss, na Pavuna, o vigia noturno proíbe a entrada de uma adolescente de shortinho. Orientação da diretora da escola, Julia Dutra. Ela é a primeira transexual a exercer um cargo de direção na rede do estado. Desde que assumiu sua nova identidade, há um ano, Julia impõe respeito para ser respeitada. Num país onde o preconceito ainda aparece, muitas vezes, sob a justificativa de que quem não é heterossexual é promíscuo, ela educa no sentido contrário:
— Criamos uma cultura de usar roupas adequadas. Nada indecente para não exacerbar a sexualidade dos alunos — explica a diretora, que comanda dez turmas de ensino médio à noite.
Julia diz contar com o apoio da maioria dos estudantes e professores. Segundo ela, mesmo a equipe da direção, composta por 90% de evangélicos, não a discrimina. No entanto, duas funcionárias não quiseram falar sobre o assunto. A única que se dispôs foi a secretária Maria Helena Feliciano. Sem parentesco com o polêmico deputado federal de mesmo sobrenome, ela frequenta a Assembleia de Deus, mas não vê conflito entre sua escolha religiosa e a orientação sexual de Julia.